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Já ouviu falar em pacotes de trabalho? Sabe o que são e para que servem?

Para entender melhor o conceito por trás dos pacotes de trabalho bem como as vantagens obtidas por meio de sua aplicação nas obras, precisamos compreender, primeiramente, de onde surgiu essa ideia e por que ela é indicada para melhorar a performance do planejamento e gestão da produção.

O uso de pacotes de trabalho tem relação com o conceito de células de produção utilizado na indústria de manufatura. Esse modo de organizar um sistema de produção favorece a implementação de um princípio Lean muito importante chamado fluxo contínuo, o qual pode ser definido como a produção de uma peça de cada vez sem interrupção entre os processos produtivos.

As células de produção são arranjos de pessoas, materiais, métodos e máquinas em que as etapas ocorrem próximas umas às outras, em ordem sequencial, através da qual as partes são processadas em fluxo próximo de contínuo. Desta forma, perdas por estoque e movimentação são reduzidas.

Na construção civil, esse conceito foi adaptado por meio da utilização de pacotes de trabalho, o qual pode ser definido como:

Um grupo de atividades, geralmente, de características similares (por exemplo, serviços executados por pedreiros), que são realizadas dentro de um período definido, o qual tem relação com a demanda do cliente, por uma equipe, a qual pode ser formada por operários que atuam em uma mesma função (pedreiros, por exemplo) ou composta por profissionais de diferentes disciplinas (pedreiros, instaladores, etc.)

Nas obras, tradicionalmente, os serviços são realizados por profissionais que executam somente um tipo específico de trabalho. Por exemplo, pedreiros que executam somente alvenaria ou apenas reboco. Essa forma de organizar o sistema produtivo dificulta o planejamento e controle da obra bem como prejudica a continuidade no processamento dos lotes de produção (pavimento ou apartamento, por exemplo), além de gerar perdas por esperas entre o término de uma atividade e o início da outra. Além disso, quando as atividades são executadas de forma isolada, é comum haver retrabalhos para consertar problemas deixados pelas equipes anteriores dado que nem sempre existe a preocupação por parte dos trabalhadores em entregar um produto com qualidade para a próxima equipe. Claramente, essa não é uma postura ideal, mas infelizmente ainda acontece na prática.

Por outro lado, quando a produção é organizada na forma de pacotes de trabalho, notamos uma série de benefícios, muitos deles ligados aos fundamentos lean de gestão como, por exemplo:

⦁ Simplificação da programação e controle das atividades – fica mais fácil programar e controlar pacotes de trabalho do que fazer o mesmo para atividades isoladas⦁ Concentração do trabalho – melhora a gestão da produção por parte dos mestres e encarregados uma vez que evita o espalhamento das equipes na obra

⦁ Redução dos fluxos físicos – por conta da concentração da produção, há uma diminuição nas perdas por transporte de materiais e movimentação de mão de obra no canteiro

 Aumento de produtividade – a execução dos serviços na forma de pacotes de trabalho tende a aumentar o rendimento das equipes e isso pode resultar em um aumento na remuneração dos operários caso haja incentivo financeiro vinculado à performance eficiente dos mesmos

⦁ Maior qualidade e terminalidade – é comum a equipe responsável pela execução do pacote ser cliente dela mesma, isto é, os operários entregam serviços prontos para eles mesmos darem sequência no processo produtivo e isso favorece tanto a terminalidade (entregas sem pendências, popularmente conhecidas como “rabos de serviço”) como a qualidade já que não faz sentido passar adiante um serviço mal feito para a própria equipe consertar

 Engajamento dos operários – é dada autonomia às equipes de produção com relação à maneira com que elas executarão as atividades do pacote de trabalho e isso faz com que as mesmas se envolvam no planejamento das tarefas e se comprometam com sua realização

⦁ Incentivo à melhoria contínua – a autonomia dada às equipes, aliada às rotinas diárias de gestão realizadas no próprio local de trabalho, estimula a interação entre os operários e a gerência da obra, favorecendo, desta forma, a troca de experiências sobre a melhor forma de executar as atividades com o objetivo de melhorar continuamente a execução dos processos

Por conta dos benefícios citados acima, os pacotes de trabalho tem sido cada vez mais utilizados pelas empresas de construção civil, principalmente aquelas que praticam a Lean Construction.

Uma vez entendido plenamente o conceito dos pacotes de trabalho e as vantagens obtidas através de sua aplicação, o próximo passo é colocar a ideia em prática. Quem já trabalha com a filosofia lean sabe que é importante aprender os fundamentos do pensamento enxuto e, principalmente, praticá-los!

A estruturação dos pacotes de trabalho deve ser feita, idealmente, antes do início da obra, durante a etapa conhecida como Projeto do Sistema de Produção (PSP). O PSP é uma das 3 atividades básicas da gestão da produção (Figura 1). As outras duas são: planejamento e controle da produção (PCP) e melhoria contínua do sistema, essa conhecida pelos praticantes da filosofia lean como Kaizen.

Figura 1: Atividades básicas da gestão da produção e seus objetivos principais

O PSP é a primeira tarefa gerencial em qualquer esforço produtivo e possui impacto na função produção em atender às necessidades de seus clientes. Sua realização permite a estruturação do conjunto de recursos da produção de uma forma organizada e gerenciável e, portanto, serve como referência às etapas de PCP e melhoria do sistema de produção.


A definição dos fluxos e sequência de produção está entre as decisões que compõe o escopo do PSP. Nessa etapa, os pacotes de trabalho são estruturados, sequenciados e suas durações definidas com base nos quantitativos dos serviços que os compõe e nas produtividades das equipes. O tempo de ciclo para execução de cada pacote pode sofrer alterações em função do takt, isto é, do ritmo de execução necessário para atender a demanda do cliente.


Para a montagem dos pacotes é preciso conhecer muito bem o escopo de trabalho. Por isso, estude o projeto para entender quais serviços deverão ser executados no lote de produção escolhido para o planejamento da obra como, por exemplo, apartamento, pavimento, casa, etc.


Vale destacar que a montagem dos pacotes de trabalho deve ser feita de forma colaborativa entre o setor de planejamento, a gerência da obra e, principalmente, os envolvidos na produção (mestres, encarregados, empreiteiros, etc.) em função do conhecimento profundo que esses profissionais possuem sobre os processos produtivos. As imagens abaixo mostram uma dinâmica realizada pela SK Consultoria e Treinamento em conjunto com a equipe do projeto para a estruturação dos pacotes de trabalho em um edifício residencial de múltiplos pavimentos.

A partir do conhecimento do escopo de trabalho, a equipe do projeto iniciará o agrupamento de atividades em forma de pacotes. Uma dúvida comum nessa etapa é sobre quais serviços devemos considerar em cada pacote. A recomendação aqui é a seguinte: agrupe atividades que possuam características similares (por exemplo, serviços executados por pedreiros como marcação e elevação de alvenaria, chapisco, reboco, etc.) e que sejam executadas próximas umas às outras em relação à melhor sequência de execução da obra. A figura abaixo exemplifica essa ideia.

Figura 2: Pacote de alvenaria e atividades que o compõe

Apesar de buscarmos, inicialmente, o agrupamento de atividades com características similares, vale destacar que serviços ligados à outras disciplinas como instalações prediais, por exemplo, podem também ser agregados ao pacote, principalmente se eles fizerem parte da sequência ideal de execução para garantir a terminalidade das etapas do processo produtivo. A figura abaixo mostra um pacote de alvenaria composto por atividades executadas por diferentes funções.

Figura 3: Pacote de alvenaria com atividades de diferentes disciplinas

Para cada pacote de trabalho é definida uma equipe principal, ou seja, aquela que será responsável pela execução da maioria das atividades que compõe o pacote. No caso da figura acima, seria uma equipe de pedreiros e serventes. Já os operários responsáveis pela realização das outras tarefas, nesse caso os instaladores, são demandados conforme a necessidade do trabalho performado por eles para a finalização completa dos serviços planejados.
Com os pacotes de trabalho devidamente montados, sequenciados e seus tempos de ciclo definidos, determinamos então o plano de ataque do projeto e o representamos por meio da ferramenta de linha balanço (Figura 4), a qual mostra de forma muito visual, os fluxos de produção no tempo e espaço.

Destaco duas importantes práticas lean que contribuem para a implantação dos pacotes de trabalho:

1) Vá ao Gemba regularmente! Essa é uma palavra japonesa que significa ‘local real’. É um termo normalmente associado ao chão de fábrica, o local onde as coisas acontecem, o que no contexto da construção pode ser entendido como o canteiro de obras. Ir ao Gemba é uma prática que recomendo fortemente! É lá que conseguimos entender melhor os problemas e suas causas bem como identificar oportunidades de melhoria, pois no gemba observamos a execução das atividades, tanto aquelas que agregam valor como as que não agregam (desperdícios), analisamos aspectos ligados à gestão da produção, além de termos contato com os operários para ouvi-los a respeito do trabalho realizado no pacote e juntos melhorarmos os processos.

2) Trabalhe com operários polivalentes, ou seja, profissionais capazes de realizar atividades de diferentes disciplinas, pois eles ajudam demais na implantação dos pacotes de trabalho. A indústria de manufatura percebeu isso faz algum tempo, porém o setor da construção civil ainda precisa avançar nesse aspecto. Já vi situações em que pedreiros foram treinados para instalar caixas de passagem elétricas e deu certo, mas ainda é raro ver casos do tipo dado à cultura de especialização enraizada em nosso setor.

Por fim, deixo alguns pontos para reflexão para todos aqueles que buscam melhorar a performance em seus projetos:

⦁ Quão disposto você está para experimentar novas formas de trabalho?
⦁ Qual foi a última vez que questionou o status quo? Você faz benchmarking?
⦁ Qual o nível de engajamento dos operários nos processos de PCP e melhoria contínua?
⦁ Você vai ao Gemba regularmente? Quanto tempo fica por lá? Você dá voz aos operários?

Mais do que a aplicação de métodos e ferramentas, Lean é sobre desenvolver pessoas, mudar sua mentalidade para a criação de uma cultura de resolução de problemas e constante aprendizado. É essa postura que levará a empresa à redução sistemática de desperdícios e agregação de valor aos seus clientes. Aos interessados em embarcar nessa empolgante jornada de transformação Lean, minha recomendação é muito simples: comece agora mesmo e persevere que os resultados virão!

Vamos juntos transformar a construção civil por meio da Lean Construction!

Produção do texto em parceria:

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